31.10.07

O primeiro jantar na casa da mulher amada


Vinhos lendários não são privilégio apenas dos povos europeus. Os brasileiros também ostentamos em seu breve curriculum de degustadores, nomes míticos que, ainda que tenham caído de moda, ocupam lugar de honra no inconsciente coletivo enológico nacional. Por isso, não se faz necessário recorrer a Jung ou Freud para se descobrir, por trás da máscara de bebedores da tradição da Borgonha ou da modernidade supertoscana, o arquétipo fundador do leite da mulher amada.

O Liebfraumilch representou mais do que um vinho para a cultura enológica brasileira, foi um rito de passagem. Da infância para a adolescência, com suavidade, doçura e a mesma ingenuidade. Produzido na Alemanha apenas para exportação, o doce vinho suave do Reno, considerado em seu país de origem como de baixa qualidade, conquistou o mercado brasileiro na qualidade de vinho importado e passou a se destacar na prateleira dos supermercados, não apenas pelo nome, mas também pela garrafa.

Sobre o mítico vinho da garrafa azul circulavam várias lendas. Uns diziam que era de alta qualidade pois ostentava o selo Qualittatswein, outros afirmavam que era produzido no norte da África e seria envasado em uma garrafa azul turquesa para justificar o preço que se pagava por ele. Fato é que o comerciante que teve a idéia de trazer o vinho e mudar a cor da garrafa criou fama, fortuna e a maior importadora de vinhos do país.

A primeira vez que jantei na casa da minha namorada levei um Liebfraumilch. Há pouco, dei de cara com esse garrafa azul safra 2003. Achei que não poderia haver no mundo vinho com a pior relação custo x benefício mas estava enganado. Diante do carrinho de compras, a mulher amada me perguntou o porquê daquele vinho. Expliquei. Dezoito anos depois, tinha daquele primeiro a impressão de um Montrachet.

10 comentários:

Anônimo disse...

alguns sabores são realmente inesquecíveis.

Gourmandisebrasil disse...

E atire uma pedra quem nunca bebeu este vinho!
Muitos apreciadores de vinhos no Brasil começaram com este da garrafa azul!
abs,
Nina.

Anônimo disse...

18 anos... e me lembro como hoje o prazer com que bebíamos este Montrachet. Ficamos mais exigentes, mas o sabor daquele vinho ficou gravado na memória. Isso sem faler do prazer de beber o primeiro Miolo Seleção. Eramos felizes e sabíamos!

Flor de Sal disse...

Eu poderia atirar essa pedra! Mas com tal descrição estou cá com uma vontade de tragar esse vinho de garrafa azul!!!!

Administrador disse...

Bebíamos no "gargalo", em copos plásticos ou qualquer outro vasilhame que estivesse às mãos. E como era bom... além de ser chique beber aquela novidade importada.

Saúde a todos os que já viveram histórias acompanhados pelo Montrachet-da-garrafa-azul.

Anônimo disse...

"Eu poderia atirar essa pedra! Mas com tal descrição estou cá com uma vontade de tragar esse vinho de garrafa azul!!!!"

hahahahaah

eu quero muito um libifrom-mixe
quase sinto o gosto na boca.
Vou comprar com certeza.

Colheita de Vinhos disse...

Confrades, a indicação para o 10º vinho da "Confraria Brasileira de Enoblogs" é o Trivento Reserve Syrah / Malbec 2005 para postagem em 1º de Novembro.

Saúde!

Colheita de Vinhos disse...

Olá Confrade,

Uma correção. Para o 10º vinho da "Confraria Brasileira de Enoblogs" a postagem será em 1º de Dezembro. Contamos com seu retorno.

Saúde!

Hane disse...

Como diz uma conhecida minha, 'o vinho garapa azul'.
Bons tempos aqueles das festas de início de faculdade, muito vinho bebido em copo de plástico e pouco conhecimento...

Toscano disse...

Este foi o primeiro vinho que tomei na minha vida!

Só agora, depois de muitos anos, começo a estudar vinhos e apreciá-los. Hoje eu leio esse texto com enorme prazer ^^.

Parabéns pelo blog! :D