10.8.07

Na adega do diabo, sob as bençãos de Don Melchor


No ano de 1883, Don Melchor de Concha y Toro regressou da França com algumas mudas de parreira na bagagem. Tão logo chegou à propriedade situada a pouca distância de Santiago, tratou de plantá-las no vasto pomar. As jovens videiras cresceram, frutificaram e permitiram à Casa de Concha y Toro fabricar seu próprio vinho. Para proteger tal patrimônio, Don Melchor guardou seu vinho no porão de sua residência e, com o intuito de espantar visitantes mal intencionados, espalhou pela região que, por trás daquelas portas se encontrava o inferno e aquele que por ali se aventurasse seria recebido por el diablo em pessoa. Só que essa é a história oficial.

Sabia-se à época, que Don Melchor produzia vinhos de qualidade e que estes eram armazenados no porão da residência dos Concha y Toro. Mas também não era segredo o fato de que o nobre nutria grande simpatia por uma sobrinha, a bela e fogosa Doña Amelia. Também não haviam de passar despercebidos os estranhos ruídos - e gemidos - que vinham do porão nas noites em que, coincidentemente, Doña Amelia por ali pernoitava. Para que tal mistério não passasse sem explicação, foi criado o mito de que naquele subterrâneo não se escondia o Toro de Don Melchor nem a Concha de Doña Amelia mas os vinhos preferidos do inominável.

O tempo passou e a nobreza de Don Melchor reside hoje num dos grandes Cabernet Sauvignon do Chile, o corpo da fogosa Amelia chega até nós por meio de um dos melhores Chardonnays do continente, e o tal Casillero del Diablo hoje pode ser encontrado em qualquer supermercado. No Chile, é verdade, não dão grande coisa por ele. Ao contrário de Don Melchor e Amelia não se tem em grande conta o Casillero. Apesar de ser este o vinho servido àqueles que visitam à Casa Concha y Toro, é considerado um vinho menor. Pode ser. Para eles. Porque este Casillero Carmenere 2005 foi uma grande surpresa. E recebeu análise à altura nos blogs Vinho para Todos, Vivinhos, Le Vin au Blog e Viva o Vinho.

Carmenére é a uva que foi dada por extinta e, se hoje está mais viva do que nunca e fazendo bons vinhos varietais, foi graças aquele punhado de mudas que Don Melchor trouxe na bagagem. No meio delas se escondia a última Carmenére. Que vingou, cresceu e frutificou e deu vinhos como se fosse uma Cabernet Franc. Foi preciso que um enólogo francês a reconhecesse e trata-se de reabilitá-la. A singela Carmenére. A nobre uva bastarda que agora emerge, não das cinzas do inferno, mas da bem cuidada produção dos Concha y Toro.

12 comentários:

Administrador disse...

Não havia pensado sobre o TORO e a CONCHA. Interessante descoberta em mais uma postagem muito bem escrita. Parabéns!

Cristina Lima disse...

Gosto muito desse. O texto está excelente . Parabéns!
Convidei meus amigos para visita-lo.

Ricardo Rayol disse...

bebi um carmen carmenére comprado no chile por * reaus. Aqui em Floripa tava por uns 40. Vai se entender.

Paco Torras disse...

Estava sentindo falta das suas histórias. Vc tem razão, o Casillero Carmenére e Cabernet são ótimos vinhos mas com a fama de serem de segunda...

Anônimo disse...

O gostoso de apreciar um vinho é também ir atrás da sua história.

Abraço

Pingas no Copo disse...

Avé Eduardo, até que enfim que ouço as tuas palavras!

Um enorme abraço

Administrador disse...

Confrades, fizemos a seguinte indicação para o vinho de SETEMBRO da Confraria Brasileira de Enoblogs: CREMASCHI FURLOTTI RESERVA PINOT NOIR 2006.

Contamos com vocês.

Postagens em 1º de outubro.

Meu Grande Sonho disse...

Esse vinho, é um dos que tem mais saída aqui em casa.. è realmente muuuiiito bom..
Adorei seu blog, quando puder, visite o nosso!!

Leandro Borges disse...

Acabei de conhecer seu blog a 30 minutos atras e esse é meu segundo post. Acho sensasional a idéia e as histórias. No momento estou abrindo um Latitud 33 em homenagem ao blog. Novamente parabens.

Abraço

Anônimo disse...

O texto deste post havia sido indevidamente copiado para a Wikipédia, num artigo erroneamente chamado Conha y Toro, por um editor identificado apenas por nickname = Wvfonseca. Informo que o texto foi colocado em 26/10 e retirado em 27/10. Pedimos desculpas pelo ocorrido. Para qualquer violação de direitos autorais constatados na enciclopédia, avise um administrador ou tente o contato da página principal. Jo Lorib - pt Wikipédia

Denise S. disse...

Eduardo, adorei saber que seu blog estava entre os melhores! Está em www.thebobs.com

Camila Haase disse...

Que texto envolvente! Exatamente como este vinho!
Não importa de onde veio, pois se assemelha muito com o esmero chileno para os vinhos... e o Casillero em especial.