Jacques Toutbon é um sujeito bem intencionado. E no entanto, atacam-no por defender a língua francesa dos anglicismos impostos pela tecnologia. Apesar de perseguido, o Ministro de le Culture, des Loisirs et de la Francophonie ostenta algumas vitórias.
Por toda a França diz-se ordinateur para computador, le logiciel para software, le materiel para hardware e courrier electronique no lugar de e-mail. A Sony não deve gostar muito, mas walkman, na França, chama-se le balladeur. Por tais idéias, a moderna inquisição tachou o ministro de herege e deu-lhe o apelido de Jack Allgood.
Solidário à causa, também eu sou perseguido pelo braço do santo ofício enológico por confessar publicamente o que consideram um pecado digno de se arder na fogueira: eu gosto de Beaujolais. Querem atirar ao fogo minha carteira de sommelier amador quando digo isso. Que joguem. Já está vencida e esquecida numa gaveta há muito. Nos restaurantes em que ela vale algum desconto no preço do vinho ou dispensa a cobrança da rolha, minha mulher defende a família.
Não vejo motivo para que se considere menor um vinho que nasce no região que faz fronteira com os célebres vignobles de Chateaneuf du Pape e os ainda mais célebres pinot noir de Beaune. Se fosse em La Mancha seria tudo um terroir só. Dizem que é por causa da Gamay, a prima-pobre das uvas, com seu corpo esquálido e seu subdesenvolvido aroma de banana.
Não vejo menor corpo num Moulin-a-Vent do que em qualquer outro produto da Borgonha e adjacências. Mesmo este Joseph Drouhin, que não é de produtor mas sim de um negociante, provou o valor de um grand cru de beaujolais. E custou a metade de um nouveau e quase o mesmo preço de um villages. Pelo menos aqui no Brasil.
Enquanto na França com poucos euros compra-se um beaujolais recém engarrafado, aqui não sai por menos de cem reais. Ou seja, heresia cometem os devotos da moda que todos os anos, religiosamente, pagam mais de trinta euros por um vinho de seis.
E é tão somente por essa razão que, como deseja o santo ofício, eu retiro o que disse sobre gostar de beaujolais. Mas não por falta de corpo, aroma de banana ou qualquer defeito que queiram atribuir a este vinho. Mas pelo custo do marketing. Ou, como quer o ministro Tiago Tudobom, o valor extra que se cobra pela mercadologie.
7 comentários:
Pois vc e o ministro estão certíssimos.
A mercadologie não é exclusiva do Beaujolais, mas com cereteza pelo menos uma vez por ano, eles abusam mais que os outros. Não se revolte tanto pq senão vc vai acabar sem nada para beber :-)
Navegar no seu blog foi um achado pra mim!! Adorei!
Vivianne
Olha, eu não entendo chongas de vinho... mas gostei de saber desse ministro francês... ele tá coberto de razão: um idioma tão belo como o francês tem que ser protegido sim!
Sorte e saúde pra todos!
Há o "télécharger" para "download", acho um charme! rs
Gosto dos vinhos feito com a uva gamay, mas acho um absurdo o marketing da bebida, tem gente que não tem o hábito de beber vinhos, mas faz questão de comprar uma garrafa do "nouveau"!
Beaujolais foi uma das maiores invenções Francesas...
Beaujolais
A public relations ploy by the French. They have a race every year to get the first Beaujolais on to tables in London, San Francisco, New York and Sydney. It's your one chance to be proud that your wine is infinitely younger than your girlfriend.
Concordo com voce sobre os Grand crus da região de Beaujolais!
Só no Brasil que a região paga por causa da baixa qualidade da coca-cola dos vinhos, o Beaujolais nouveau! Que aliáis fica uma delicia geladinho com licor de cassis como aperitivo! Mas obviamente pagando o preço justo pela garrafa! É agora 15/11 o lançamento mundial!
Se voce for olhar o marketing, analise o Petrus! Ele é puro marketing também! Conheço vinhos melhores!
Quanto ao custo de uma garrafa no Brasil, é ridiculo o que o governo faz. Os impostos sobre uma garrafa de vinho são astronômicos! Se ainda fosse por reserva de mercado, mas não, é para ganhar em cima mesmo! Quando que adotaremos um sistema TVA para nossa economia?
Apareça sempre no EgoGourmet e na Confraria Viva!;-)
Ana de Bruxelas
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