30.8.06

A nível de vinho...


A nível de vinho, muito se fala, pouco se diz. Sobre a matéria, proliferam como ervas daninhas toda a sorte de publicações ditas especializadas, colunas e artigos de jornalistas ditos especialistas e sites de profissionais como Robert Parker dito the wine advocate. Confio nos blogues. 

Um sujeito que sai para jantar com a esposa ou com amigos e, no dia seguinte, descreve suas impressões sobre o vinho que pediu no restaurante tem, certamente, credibilidade muito maior do que o profissional que recebe o patrocínio - e os melhores vinhos - de grandes vinícolas e negociantes. 

Confio no que diz o Pingus Vinicius no pingasnocopo, o Paco Torras no bistrô carioca, o Prosendo na a-adega, o Nuno no saca-a-rolha, Suzi no vinhoselivros, João Pedro no copod3 e a Karen no kafkanapraia, todos blogspot, e suas majestades as rainhasdolar ponto com. 

Quer saber a nota de um Côte du Luberon? Pergunte à Teresa no rioparissemescalas.zip.net e esqueça o parecer jurídico Parker-Johnson. Wine advocates não pesquisam preços, não trazem vinho de Paris na mão com todo o cuidado, nem esperam o anoitecer e a companhia das estrelas para abrir a garrafa. 

Mesmo o mais genial de todos os cérebros afirmou ser tudo relativo e mostrou a língua para as verdades absolutas da ciência. Quem se leva muito a sério corre o risco de perder o bom senso e acreditar nas bobagens que fala. Afinal, consideram-se sérios os engenheiros da NEC que inventaram o robô que decifra os aromas contidos no vinho a nível de casta e terroir de origem. 

Em tom igualmente sério, fala-se que o aroma da vitis vinifera é irresistível quando exalado a nível de pescoço feminino e, por isso, já industrializaram as fragrâncias Sauvignon Blanc, Sauternes e Boisé, esta última para aqueles que não imaginam uma noite de amor sem o aroma de barricas de carvalho. 

Parece mentira, mas fala-se também que o vinho deve também ser harmonizado a nível de música. Assim, marcas que nunca ouvi falar como Consensus e Chakana, devem ser devidamente degustadas, respectivamente, com a Nona de Beethoven e o álbum Sargent Peppers Lonely Hearts Club Band. Falam que suas estruturas se harmonizam. Deve ser. E fala-se ainda muito mais. 

Cá entre nós, deixem que falem. Como diz o sábio provérbio português, quem muito fala de vinho, sede tem. Pois.

11 comentários:

Paco Torras disse...

A nivel de blog de vinho, esse seu post está do cacete! Assino em baixo. É muita frescura.....

Karen disse...

Eu concordo com você, acho até que publicações e descrições especializadas acabam com uma certa beleza e poesia da bebida.

Anônimo disse...

O Côte du Luberon é o vinho da região da França que eu mais amo, pelo cheiro, pelo sol, pela paisagem. Ao lado dos Côte du Rhône e dos Côte de Provence, é o vinho do verão, com seu aroma de lavanda, de olivas, de sol a pino... huuummm, bom demais.

Pingas no Copo disse...

A importância que dou aos conselhos dos amadores é cada vez maior. Sente-se mais paixão, mais emoção naquilo que dizem. Saiu-lhes do bolso o pinga que bebem.

Procuro cada vez mais os conselhos dos amigos.

Um abraço Luso

Anônimo disse...

Edu, a fôrma está no Shoptime. Corre lá! :-)

Beijuca

P.Rosendo disse...

Parabens pelo post. Está um espectáculo.

Suzi disse...

Enrubescida à la cabernet franc,encabulo. A delicadeza do post é digna de você.
beijos

Alexandre Santucci disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Alexandre Santucci disse...

Gostei muito do que li nos seus posts.
Parabéns!
Te convido para ler os meus.
abraços
Santucci

Anônimo disse...

A proposta de seu blog é muito interessante. Pena que muitas coisas das quais você fala você não tem a menor noção. Eu odeio o RP, mas, para sua informação, ele compra todas as garrafas que prova e não tem nenhum patrocínio. Não concordo com a pontuação e forma de divulgação,mas há de se respeitar o homem pelo trabalho que faz. A opinião do amador é a mais importante, concordo, mas a do profissional adiciona sempre novidades. Não seja tão medroso de olhar as coisa por outros pontos de vista diferentes dos seus. Forte abraço

Lucas Cançado disse...

Prezado Eduardo,
seu texto é delicioso. Eu festejo suas safras.
Como é o seu endereço eletrônico?
Abraço!
Ah! Quando eu li o texto "mea culpa" eu me arrependi de não ter lido de joelhos. Lindo! Genial! Encorpado.
Abraço.

Ana Cançado.
eco_logica@uol.com.br
Aguardo contato para possivelmente publicar alguns de seus textos em edições comerciais de um certo festival de vinho.